22.2.10

Casulos e armaduras

"Como posso alcançar o desconhecido, se ao conhecido me apego?"

Voltei da COMEERJ com essa frase na cabeça, e uma semana depois ainda mantenho ela aqui, o que é muito bom.

Alguém falou que éramos altamente privilegiados por estarmos naquele encontro, que nos traz tantas reflexões e até mesmo sabedoria vinda dessas reflexões. Algumas pessoas me acham sábio, apesar de eu não ser. Acho que se há alguma sabedoria em mim, é devida às reflexões que começam desse encontro anual, no período de carnaval. A COMEERJ é o começo da busca investigativa, que desvenda a mim mesmo, me fazendo me ver nu, sem a armadura da personalidade, sendo mais eu.

E é justamente dessa armadura que eu quero escrever hoje.

Depois da COMEERJ, eu mudei minha percepção com relação às coisas e às pessoas, e agora que eu sei que o que vemos das pessoas não é quem elas são, mas sim uma armadura de orgulho, mesquinharia, indecisão, preconceito, uma segunda natureza, que nada tem a ver com a realidade de cada um. O que nós somos não é o que aparece, e sim, algo invisível e maravilhosamente belo. Não vemos o que há de verdadeiramente belo nas pessoas, mas acho que agora estou conseguindo enxergar melhor.

A armadura do orgulho, por ser a nossa segunda natureza, nós nos iludimos e achamos que nunca mudaremos, que seremos sempre lagartas, feias, lentas e limitadas. Mal percebemos que estamos num casulo e que a qualquer momento seremos borboletas. 

Aí entra a lei de evolução. Muitos ainda estão na fase de lagarta, outros, começando a construir o casulo, e outros ainda estão se metamorfoseando lá dentro. Alguns, raros, estão rompendo a casca e começando a entrever a luz. Eu não sei ao certo em que fase estou. Por vezes, me sinto lagarta. Na maioria das vezes, construindo o casulo, mas eu gosto de acreditar que estou me metamorfoseando. No entanto, às vezes eu me sinto como se estivesse entrevendo a luz, pelo furo do casulo. 

Olho pra luz e tenho medo. Vejo as coisas e as pessoas lá fora e penso "será que lá fora será melhor?" E penso em tudo que aprendi, todos os preconceitos e velhos valores do mundo, e tenho medo de encarar a nova realidade da vida, onde tudo tem mais cor, onde a liberdade é a lei e o amor o lema. Flores, flores e mais flores me aguardam, mas prefiro calar e não empreendo o esforço necessário para sair do casulo. O que me impede? Por que não simplesmente sair e conhecer? 

A resposta: "me apego ao conhecido".

Os velhos valores são o que eu tenho, me apegar a eles parece o melhor caminho. A porta larga de que falou Jesus. É mais fácil se acomodar no passado, afinal, na acomodação o orgulho não é ferido, o egoísmo pode continuar existindo e todos os vícios continuarão lá. Acomodação. Escravidão. Continuamos infelizes e nos martirizando por coisas que fazemos e pensamos, ou então buscando nos prazeres fugidios, nos 18 segundos de um orgasmo, no tempo do efeito da droga, procuramos algo que não sabemos o que é, e continuamos a procura até nos cansarmos do casulo e tomarmos a decisão: "eu quero". 

Nessas horas, quando a gente se dá conta de que não dá mais, preferimos a porta estreita, e num esforço que dói, machuca, num processo lento, e pensamos que voltar pro casulo é a melhor opção, só que  não dá mais pra continuar lá dentro, há um mundo a desvendar, há mistérios para sondar, há muito o que descobrir! Então nós vamos, quando descobrimos que o junto ao casulo há a armadura que impede que quem nos ama nos conheçam e impede que nós mesmos nos conheçamos. 

Vemos que a única maneira de preservar o que nós somos é abandonar a armadura e sair do casulo. E é isso que eu pretendo fazer.

Desapegar-me do conhecido e ir além.

Um comentário:

Luana Harumi disse...

é a decisão mais difícil.. "eu quero".

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